quarta-feira, 15 de maio de 2013

O Espírito Santo e a Igreja



Cinquenta dias após a Páscoa da Ressurreição do Senhor, os cristãos celebram a vinda do Espírito Santo, em Pentecostes. Mas quando se deu mesmo essa vinda? 
Para Lucas, nos Atos dos Apóstolos (2, 1-13), cinquenta dias após a Páscoa, coincidindo com o Pentecostes dos judeus, quando comemoravam a Aliança e o dom da Lei. Lucas visa preservar a unidade das festas Páscoa-Pentecostes para acentuar que em Jesus se dá a plenitude da aliança e da salvação, prometida e iniciada com o povo da primeira aliança, os judeus. Para o evangelista João (20, 19-23), o Espírito vem no mesmo dia de Páscoa, dado pelo Ressuscitado: “Recebam o Espírito Santo”. As duas opiniões não se opõem, mas se completam, cada autor acentuando seus objetivos.

Promessa e dom do Pai, o Espírito tem tarefa dupla: ungir e capacitar os profetas que percorrerão o caminho e confirmar esse caminho. A Igreja nasce sob sua ação, fundamentada em Jesus Ressuscitado. Em Lucas nem os representantes de Jerusalém nem os Doze têm o controle da Igreja. É o Espírito que lhe assegura a continuidade com Jesus, e é fonte de vitalidade da missão cristã. Assim a Igreja não existe para si mesma, mas para o mundo, para ser testemunha do que Deus fez por Jesus e através dele. Para a fé cristã, o Espírito Santo não é um dom exclusivo feito à Igreja, mas ao mundo. No início da criação, Ele dá vida ao caos. 

À medida que a Igreja nasce e se consolida em cada região, anunciando o Reino de Deus, toma características da cultura local sob a ação do Espírito que age no mundo através dos homens. Há, porém, que se entender bem sua ação. Ele não faz a história nem a conduz como se fosse uma força dominadora, capaz de imprimir sua vontade a todos os fatores históricos. Não é uma mão invisível que maneja todos os homens e os obriga a fazer sua vontade. Pelo contrário, o Espírito respeita e promove a liberdade de todos, inclusive dos pecadores, deixando plena liberdade a todos os atores da história.
Também em relação à Igreja o Espírito age assim. Ele cria a Igreja como povo de Deus para ser luz do mundo que vai orientando a caminhada de todos, especialmente dos pobres. A Igreja obedece ao Espírito de Deus quando promove a libertação de todos procurando construir uma sociedade mais fraterna, mais justa, compassiva e misericordiosa. Mas, como a Igreja está no mundo e na história, ela pode igualmente ser ou já estar marcada pelo jogo do poder, da riqueza, reflexos da força dos dominadores. Então, em vez de emancipar-se deles, vai-lhes ao encontro.
De acordo com as características culturais dos povos e regiões, a Igreja tomou historicamente diferentes caminhos no Oriente Cristão (Oriente Médio) e no Ocidente Cristão. No Oriente é mais mística, no Ocidente é mais jurídica. No Oriente é mais atenta ao Espírito, no Ocidente é mais dada à organização. No Oriente é mais voltada para a espiritualidade, no Ocidente mais para a prática. Os acentos da Igreja oriental não estão ausentes no Ocidente Cristão, mas têm aí menor intensidade. Os acentos da Igreja ocidental não estão ausentes no Oriente Cristão, mas têm nela menor peso. 

A história da Igreja mostra uma luta constante entre o Espírito e a carne, entre uma Igreja mais fiel ao Espírito do Senhor e sua santa operação e uma Igreja mais presa aos condicionamentos circunstanciais de tempo, lugar e cultura. Sensibilidade para o tempo, os lugares, as culturas e pessoas situadas historicamente é uma exigência do Evangelho e da encarnação do Verbo. Aprisionamento aos condicionamentos leva a comunidade de fé a um desvirtuamento da sua identidade e da sua missão. Sensibilidade e escuta ao Espírito são exigências fundantes da Igreja. Espiritualismo, perda de pé da realidade e estruturação legalista podem levar a Igreja a não permanecer fiel.

A Igreja do Espírito e do Senhor Ressuscitado precisa ser história e carisma, carisma e história, um buscando o outro, para que o mundo tenha esperança e creia. Frei Odair Verussa

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